Rafaela sentiu o corpo de Yago se acalmar, os braços que a prendiam ficaram mole e logo foram para o chão, a loira piscou duas vezes olhando para os lados, não acreditava que tinha dormido ali com ele, no boxe do banheiro ainda molhados.
Bocejou e sentou bem sobre o quadril dele, olhou para baixo e coçou o olho.
-Yago, acorda vamos pra cama! – falou levantando-se, mas não viu a movimentação dele, fez bico. – Vamos lobo chato.
Empurrou-o, mas balançou a cabeça negando e pensou em deitar sozinha, mas acabou puxando ele para o quarto e jogando-o sobre a cama. Ofegou cansada e deitou do lado dele.
-Seu chato, não compensa namorar você!
Falou brincando e puxou uma coberta cobrindo os dois e se aconchegando nos braços dele. Estava cansada e logo voltou a dormir. O coração batia tranquilo.
Rafaela logo sentiu o toque macio de uma mão sobre seus cabelos, apertou os olhos e coçou os olhos.
- Ah? – Abriu os olhos. – Layla?
Estava confusa, moveu-se na cama. Era estranho, não tinha o cheiro de Yago, nem era macia como a da cabana, sentia-se meio perdida. Olhou em volta observando o que estava acontecendo. Uma mulher loira bonita e um homem também loiro e grande aproximaram-se. A mulher beijou sua testa e o homem acariciou seus cabelos.
- Meu pequeno lobo, você vai ficar aqui e nós vamos voltar para busca-lo, não fique triste, você é forte e tem que cuidar das suas primas e todos os outros, que não podem lutar mais... Vai fazer isso? – a voz da mulher era carregada de amor e medo, os olhos brilhavam uma incerteza.
- Sim mama! – a voz era infantil, mas Rafaela sabia que não vinha dela.
Logo o homem abaixou-se ficando da mesma altura, um olhar forte e a voz seria falou baixo.
- Quando o ataque estiver acabado vamos vir o pegar filhote, não precisa ter medo, como sua mãe falou precisa cuidar de todos aqui... Vai me deixar orgulhoso não? – a mão do homem passou sobre os cabelos bagunçando eles.
Rafaela sentiu algo passar por ela, um menino loiro de olhos azuis, olhos que brilhavam triste e cheio de medo. Ele passou a mão no rosto para limpar a lagrima que escorria e se pós em pé e ficou em parado cruzando os braços, a loira sentiu certa imponência menino, sentiu um orgulho crescer em seu peito. Abaixou-se e passou a mão no rosto do menino e sorriu boba, mas a mão dela acabou atravessando o menino.
Layla riu baixinho e balançou a cabeça negando algo, mas não falou segurou a mão de Rafaela e começou a caminhar.
Apertando a mão da irmã começou a seguir com ela.
- Layla, fala comigo... Mana... - Os olhos azuis de Rafaela estavam cheios de lagrimas. – Por favor, mana eu preciso de sua ajuda...
Rafaela tinha certeza que era um sonho, mas tinha medo de que não fosse, tentou parar a irmã puxando-a, mas a pequena olhou seria para ela.
- Você tem que ir rápido ele precisa de ti.
- Quem? Layla me explica, por favor. – Rafaela estava seguindo Layla com a cara amarrada. – O que esta acontecendo aqui!
A voz da loira era baixa e chorosa, mas logo um rosnado pode ser ouvido pelas duas, os olhos azuis de Rafaela foram para a porta quando viu o grande lobo entrar. Seu coração disparou e procurou sua adaga de prata. Enfiou-se na frente do menino, preocupada.
- Vá embora criatura! – A voz de Rafaela era cheia de ódio.
Mas ao contrario do que parecia o menino não ficou com medo do lobo, ele até sorriu e aproximou-se com os braços pequenos abraçando aquela criatura enorme. Sua boca abriu e a língua passou pela face do menino que riu logo grunhidos fora ouvidos e respondido pelo pequeno.
- Estou esperando meus pais, logo eles vão voltar e me buscar. – A voz era cheia de carinho.
O lobo balançou a cabeça e sentou do lado dele. Rafaela ficou abismada, mas não podia fazer nada. A noite passou em um piscar de olhos e o dia começou, o menino corria atrás de lobos enquanto a loira seguia atrás dele preocupada, tentando tira-lo dali, mas quando era noite algo estranho aconteceu.
Uivos tomaram conta do lugar e logo muitos lobos apareceram. Rafaela abaixou-se para proteger o menino quando os olhos azuis focaram o dela, num sorriso único ele soltou um uivo virando um lindo filhote e correu para o meio dos grandes lobos.
A caçadora caiu sentada no chão e logo seu coração apertou-se. De seus lábios somente um nome saiu.
- Yago!
Piscou algumas vezes criando coragem para se levantar, sem muita vontade seguiu o lobo parando numa clareira. Rafaela sempre seguia o pequeno Yago, olhando para ele com carinho e preocupação. Seus olhos verdes procuraram em volta alguma coisa e logo focou em um homem grande, forte, bonito e de aparência selvagem falava aos lobos, mas podiam-se notar algumas pessoas ali também.
- Outra lua de sangue está nos céus, mais uma vez nosso corpo pede pelo sacrifício... Muitos não entendem o porquê dele, porem nossos corpos e nossas almas pede o sangue, carne e alma das nossas contra partes... Muitos repudiam isso e se tornam fracos perante os nossos inimigos! O sangue e a alma dos nossos sacrifícios nos alimentam nos entregando a força que sempre foi nossa... Podem achar monstruoso, mas é a lei mais primordial... A lei dos mais fortes prevalece mesmo alguns não querendo que isso seja verdade... Hoje, os mais fortes... Homens e lobos estão aqui para seguir a tradição da Lua Vermelha, os mais novos guiarão os passos dos filhotes mostrando cada passo deste belo ritual... Agora, vamos a caçada!
O homem soltou um uivo alto e aterrorizante e virou-se para direção de Yago e Rafaela. A loira foi para frente do menino, que somente passou por ela e correu pulando no colo do homem. Logo os lobos saíram correndo assim como algumas pessoas, os olhos verdes da loira percorriam cada instante, num impulso se proteção e curiosidade ela seguira os dois.
Eles iam se afastando de todos e a preocupação ia aumentando, o que o lobo iria fazer com ele. Depois de caminharem muito os dois pararam, Rafaela olhou em volta procurando alguma armadilha, mas o homem somente segurou a mão do menino sem falar nada e indicou uma arvore. Os dois seguiram juntos um ao lado do outro até uns galhos que o homem retirou com cuidado revelando uma bela mulher loira de pele branca.
O menino olhou para a mulher e sorrindo pulou sobre ela. Quando Rafaela notou o que estava acontecendo soltou um grito indo para trás, o menino cravava suas presas na pele branca, a mulher abriu os olhos e gritou de dor enquanto o menino se alimentava. O homem riu divertido e passou a mão na cabeça do menino.
- Muito bem Yago... Saiba que estas são as melhores!
A voz do homem saiu divertida e o menino olhou para cima e afirmou com a cabeça, seu rosto estava sujo de sangue enquanto Rafaela olhava para o menino assustada.
O tempo foi passando, mesmo que para a loira fosse uma piscada de olhos, cada lua vermelha era pior. Rafaela descobriu que o homem se chamava Johann e tinha um filho, mas passava muito tempo com Yago, algo que perturbava a loira a cada segundo. Os rituais eram os piores momentos, Johann falava barbaridades para o menino que Rafaela tentava inutilmente abraçar e afasta-lo do homem. Sempre o levava para um banquete especial, mulheres bonitas, loiras e olhos claros.
São passados dois meses entre rituais e lições com Johann, Yago já se mostra um clone do homem. Uma mulher bonita loira de cabelos longos e cacheados se aproxima do menino. Ela abaixa-se e passa a mão no rosto do menino, com uma voz triste e baixa fala acariciando ele.
- Seus pais não vão voltar, aconteceu um problema eles, eles morreram.
Yago que estava gostando do carinho da loira olha para ela, ouve atentamente o que ela fala, o menino olha em volta procurando Johann, mas não o vê por ali, olha para a mulher loira, sente sua boca salivar, mas sabe que ela é uma garou como ele, não pode se alimentar dela. Os olhos dele ficam vermelhos, no mesmo instante ele começa a brigar com a mulher e empurra-a correndo para longe em busca de sua fortaleza. Rafaela fica olhando perdida sem saber o que fazer, mas acaba indo atrás de Yago.
Depois de rodar toda a reserva eles encontram Johann sentado numa pedra, ele estava bebendo algo, mas Yago não se importa, ele corre até o homem e fala sobre as mentiras que a mulher loira falou. Johann maneia a cabeça e começa a falar que aquela garou era uma bruxa e ela deveria ter feito algo para prejudicar os pais dele, começa a falar de todas as mulheres loiras que elas são bruxas que só sabem atrapalhar a vida, que ele deveria matar todas que se aproximassem.
Os anos passam e logo e Yago sempre estava acompanhado de Yuri e Lunna, os três eram inseparáveis em suas aventuras pela reserva. Só se separavam no ritual da Lua Vermelha, pois Yago sempre estava ao lado de Johann, mesmo sabendo que ele tinha um filho, Rafaela nunca entendeu a obcessão do homem para com Yago.
A loira começou a ficar irritada com o jeito que Yago olhava Lunna, todo carinhoso, sempre se exibindo, dando pequenos presentes até fazendo declarações de amor sozinho no quarto. Rafaela sentia um aperto no coração ao ouvir a voz de Yago proferir com todas as letras. “eu te amo Lunna” eram tantas e tantas vezes que lagrimas de raiva e ciúmes escorria da face da loira.
Toda vez que Lunna o desprezava, ou então o comparava a Yuri, Rafaela socava a face da mulher e tentava abraçar seu amado, mas era como abraçar o ar. Era uma noite de festa, algo tinha dado muito certo e todos estavam felizes, Yago tinha decidido que Lunna seria sua esposa. Neste momento a loira estava em pânico. Seguia ele nervosa, falava para o ar que ele não deveria fazer isso, que ela não gostava dele, mas ele não ouvia, ele nunca ouvia nem sentia nada e isso a estava frustrando.
Yago chega feliz para Lunna e a abraça beijando seus lábios, a menina faz uma careta e o empurra para longe, Rafaela aperta as mãos olhando irritada. Lunna começa a falar sobre Yuri como seria perfeito quando estivessem os dois juntos, até que Yago não aguenta, ele vira-se para ela e fala com todas as letras e em alto e bom som.
- Luna, eu te amo! Quero que seja a mãe dos meus filhotes, minha companheira para toda a eternidade.
Rafaela para olhando para os dois as lagrimas escorrem sem controle e sente vontade de bater em Yago por proferir estas palavras para outras, mas Lunna somente olha para ele e começa a rir, batendo de leve no ombro dele e falando que tinha achado a brincadeira legal.
Yago nega e exibe uma caixa com alianças, sim ele queria tudo certo, mas Lunna começa a falar sobre Yuri e como eles vão ser felizes juntos novamente. Rafaela pode ver o rosto de Yago se transformando, cada palavra é como um tapa em seu rosto, algo acontece e Yago se transforma em lobisomem e vira uma garrada em seu rosto, quando ia acertar a outra em seu peito alguém o segura.
Rafaela se vira olhando para trás assim como Yago e pode ver Yuri se transformando, o loiro grita que ele esta estragando tudo, que é uma briga de casal, mas Yuri não se importa a briga começa a acontecer, Rafaela tenta entrar no meio, mas nada acontece, tentou separar Yuri de Yago, mas nunca conseguia toca-los. Frustrada se afastou e observou cada golpe dado e recebido pelo seu amado.
Foi violenta e Yago não ganhou por pouco e pela ajuda de Lunna. Yago estava agora no chão cercado por todos que confabulavam. Ninguém se importava com ele, ninguém menos Rafaela que mesmo não podendo toca-lo estava ao seu lado. Tentou acariciar seu rosto, cuidar de suas inúmeras feridas, mas nada funcionava.
Rafaela tinha certeza que neste momento, naquele instante com ele ali deitado no chão da reserva, todo machucado, mesmo que estivesse assim por ter se declarado a outra mulher a loira tinha certeza do que sentia.
A sentença foi dada e Yago ganhou somente uma passagem de ia para bem longe da Reserva com ordens claras que se ele voltasse provavelmente sua morte seria anunciada. Rafaela tentava o puxar para longe, mas ele apontou o dedo para Yuri amaldiçoando ele e gritando e berrando para todos os ventos que Lunna era dele e que nada iria separa-los, ele iria, mas voltaria para busca-la, pois ninguém o separaria de seu único amor.
Cada palavra proferida por Yago fazia o coração da caçadora chorar por dentro. A partir deste momento Rafaela se fechou sozinha, observava ele a cada movimento que fazia, mas sentia-se abandonada, por mais que Layla tivesse falado que eram só lembranças, as palavras de Yago a tinham machucado mais do que desejava.
Tudo mudou depois de um ano e meio após o exílio, Yago andava quieto pela cidade quando olhou para o céu, observou a lua vermelha crescendo e mandou outra carta para Lunna, avisando que logo estaria de volta para toma-la como sua. Neste dia uma garota se aproximou dele num pub, por instantes Yago a confundiu com Lunna, ficou todo feliz até que viu que era somente uma humana, neste dia ele a seduziu, falou palavras carinhosas e acabou levando ela para longe, foi quando cumpriu o ritual e matou. Mas este foi diferente.
Rafaela sentia na voz de Yago todo o carinho que ele tinha por Lunna e depois de ter se alimentado sentou numa pedra e ficou olhando a lua. A Loira sentou-se ao lado dele, moveu a mão ajeitando o cabelo de seu amado, como sempre fazia quando ele ficava pensativo. Pode o ver adormecer quieto e sozinho na floresta, isso apertou seu coração e a fez fazer algo que nunca tinha tentado. Fechou os olhos e deitou a cabeça no peito dele. Pode sentir as batidas do peito dele assim como sua respiração em sua cabeça. Lagrimas caíram e ela tentou abraça-lo falando baixo.
-Yago... Estou aqui com você meu amor... Nunca vou deixa-lo sozinho.
As palavras foram como uma promessa. Lentamente ela se virou e o beijou em seus lábios, porem levou um susto e não entendeu direito o que aconteceu, pois parece que ele tivesse sentido o beijo, afinal acordou assustado olhando em volta. Rafaela se afastou procurando por algo que o tivesse perturbado.
O tempo passou rápido e Yago estava pronto para voltar, iria tomar sua amada como companheira, não importava as consequências, ele repetia sempre, “prefiro morrer lutando por ela a viver eternamente sem ela”. Rafaela o batia sempre que o ouvia falar isso, ficava longe e nem queria saber o que aconteceria com ele mais. Porem o dia chamou sua atenção.
Yago foi para a estação e comprou uma passagem. Sentou-se num banco e ficou pensando em todos do passado, Lunna, Yuri, Johann e todos. Sentia falta e também raiva.
Foi quando algo lhe chamou a atenção, abriu a porta e pode ver uma loirinha bonita passando pelo corredor. Rafaela segurou a blusa e tentou segurar ele dentro da cabine, mas não conseguiu. O pânico toma conta da loira que começa a gritar para ele não fazer isso, era a primeira vez que vê algo tão assustador, nunca ligou para as outras humanas de quem ele se alimentou, mas aquela era Layla, sua irmã, como ele podia fazer isso.
Chorava desesperada tentando impedir a irmã de entrar no vagão, decide ir embora e não olhar mais para os dois, mas acaba vendo tudo, o jeito como ele a trata, como a envolve e por final a mata.
Rafaela se vira perdida num mundo estranho, não sabia como sair dali, corria tentando sair do trem, mas parava no mesmo vagão. A loira chora e grita o nome da irmã e logo sente algo a tocando, assustada olha para trás e vê.
Assustada passa a mão na ilusão a sua frente, mas sente a irmã e logo a abraça. Layla da um sorriso triste e murmura baixo e fraco.
- Você ainda o ama?
Olhando para a irmã toca em seu rosto, ouve a pergunta e não olha para trás, sabe que não seria capaz de responder se visse o rosto dele.
- Não, não o amo... Nunca amei este monstro!
Layla tomba a cabeça para o lado e ri baixinho balançando a cabeça.
- Rafa, sou eu, sua irmã... Não pode mentir para mim. Não para mim!
A loira passou a mão no rosto e abraçou a irmã forte.
- Ele me tirou você... – Rafaela retruca.
- E mesmo assim você o ama... diga a verdade! – Layla fala carinhosa.
- Lay... –Rafaela respirou profundamente e afirmou com a cabeça.
- Diga Rafa, eu preciso ouvir! – Layla parecia um pouco apreensiva.
- Sim, eu o amo! – Falou como se estivesse dilacerada.
Layla sorriu e acariciou o rosto da irmã e beijou sua testa falando baixinho.
- Prometa que será feliz Rafa, nunca se esqueça de que mim, você foi e é a melhor irmã do mundo. – Layla falava sumindo. – Agora, Rafa uma coisa importante... Acorda, pois Yago precisa de você!
Rafaela sentiu o corpo tremer e olhou observando Yago guardando o coração da irmã, mas seus olhos foram para os olhos dele, um olhar triste e perdido. A loira caminhou até ele e tocou em seu rosto murmurando baixo.
- Sempre com você meu amor...
A imagem de Yago ia sumindo enquanto Rafaela piscava abrindo os olhos. Sentiu o corpo gelado de Yago embaixo do seu e entrou em pânico, lagrimas caiam e socou o peito dele.
- YAGO!
