A noite estava fria, parecia que ia nevar, Celline estava parada no meio de uma linda clareira, sentiu pequenos flocos de neve tocarem sua pele, estava somente com uma camisola rosa fina, mas mesmo assim não se sentia congelando...
Começou a andar em direção as arvores seus olhos verdes bem acostumados com a pouca luminosidade parecia ver cada centímetro do caminho perfeitamente.
Quando chegou às arvores, tocou o maior tronco e sorriu, afinal tinha ouvido um rosnado. Com o maior sorriso virou-se procurando alguém.
- “Gwor!?”
O coração de Celline batia forte, estava ansiosa para rever seus amigos, já fazia três anos que não via nenhum worg somente em seus sonhos.
- “Gwor cadê você?”.
Deu um passo para frente e olhou a sua volta, ouvia o rosnado e sentiu-se perdida.
- “Porque não está falando comigo? Eu sei que você não pode falar comigo... Meu pai fala que não, mas eu sei que pode então Gwor fala comigo!”.
Celline deu um passo para direção do rosnado até que viu olhos amarelos, não era comum isso depois de tanto tempo com os worgs nunca tinha visto olhos como aqueles. O coração bateu forte e o medo começou a tomar conta do corpo.
-“Quem é você?”.
A voz saiu tremida enquanto deu um passo para trás, sem ver para onde ia Celline bateu o corpo sobre algo e gelou, tinha batido em algo grande e que respirava, pois sentia sua respiração quente batendo em sua cabeça. O pânico cresceu e o grito surgiu, era de puro medo cheio de terror.
- Ah...
Uma mão quente tampou sua boca e uma voz grossa e seria pode ser ouvida.
- Quanto tempo, já lhe procurei tanto e agora não vamos mais nos separar.
Falando abraçou Celline a mão na boca desceu até o pescoço enquanto a outra envolvia a cintura colando mais os corpos. O rosto colou-nos dela e logo os lábios tocaram sua bochecha.
Celline se preparou para o beijo do estranho, mas sentiu uma crescente dor de uma mordida.
- Me solta...
Gritou com dor e as lagrimas caindo de seus olhos acabou molhando seu rosto enquanto o homem soltou uma bela risada.
- Não gosta de dor ‘minha’ pequena... É tão saborosa.
Celline tremeu o grito agora parecia entrar pelo seu corpo e ir até sua alma.
- Não, não sou sua, seu monstro!
Falou gritando enquanto o homem ria divertido, Celline se afastou dele.
- Sim, você é minha, você e sua matilha já falei isso, alias, viu como estão bonitos? - Esticou a mão direita mostrando nas arvores os worgs negros de olhos amarelos. - Foi difícil achar eles, assim como foi difícil achar você, mas seu pai não tem tanto poder para nos separar assim.
Elai pegou-a pelo braço e puxou para perto, seu corpo colou no dele. Sorrindo aproximou o rosto do dela falando baixo.
- Você não sabe o quanto esperei por isso.
Colou os lábios quentes nos dela. Celline se virou de uma vez para se livrar do abraço e do beijo que caiu no chão.
Resmungou algo abrindo os olhos e vendo seu quarto, na porta estava Louren com a varinha na mão pronta para atacar, atrás dela Anthony procurando alguém.
-Mamãe... – Falou com a voz chorosa. - Ele quer me pegar!
Anthony se aproximou enquanto Louren pegou a filha no colo.
- Calma bebe, ninguém vai tirar você da gente!
- Nunca permitirei isso filha.
Anthony falou abraçando a esposa e a filha. Celline afirmou com a cabeça aninhando-se nos braços dos pais. Fazia três anos que eram os três no chalé. Vitor quando completou seus onze anos foi chamado para Durmstrang e voltava para a casa nas férias, mais fazia dois anos que ele não voltava. Seus pais falavam que estava se prevenindo, mais Celline achava outra coisa, afinal nem castas podia mandar para ele.
Anthony e Louren a fizeram dormir novamente, meio arredia a pequena adormeceu, mesmo com medo, Mas o resto da noite foi tranqüila, sem pesadelos nem nada.
Quando amanheceu Celline levantou-se e escovou os dentes, penteou o cabelo e colocou um vestido simples e correu para brincar.
Descendo as escadas sem fazer barulho, para pregar uma peça na mãe, ouviu vozes, as dos pais e do irmão, quis gritar e pular no pescoço do irmão, mas algo a fez ir devagar. Quando chegou perto se escondeu para ninguém vê-la.
- Pai, ela precisa saber.
- Nunca Vitor, deixe sua irmã fora disto!
- Mais faz parte dela.
- Uma parte que já acabou não faz parte da nossa família.
- Ela era, alias é nossa irmã, para de loucura pai... Mãe fala com ele.
Louren ficou parada com lágrimas rolando pelo rosto enquanto olhava para Vitor, mas com a voz baixa e cheia de tristeza falou gaguejando.
- E-el-ela est-esta bem? V-voc-você a viu?
- Não mão, ela não está bem, ela esta sem a família que a expulsou de casa.
Vitor falou irritado.
- Olha como fala Vitor, respeite sua mãe.
-Respeitar, por quê? Ela deixou você levar a Brint embora, separou a nossa irmã, Cel nem se lembra direito porque era muito pequena, mas você sabe que as duas eram muito unidas.
- Chega Vitor. –Gritou Anthony. – Chega, para de falar bobeira, você não sabe de nada eu fiz o melhor para todos nós.
Louren chorando balançou a cabeça negando algo e começou a falar baixo.
- Parem foi toda minha culpa, eu que não cuidei direito, que deixei levar ela... Acha que não choro a noite Vitor, Brint saiu de mim e uma parte minha... Você nem ninguém sabem o que é isso então para com isso!
- Não, foi o papai que levou el...
Anthony deu um tapa no rosto de Vitor que parou de falar imediatamente, os olhos vermelhos com lagrimas caindo Vitor sentou-se e Anthony falou serio.
- Nunca, nunca mais quero ouvir falar disto... Aquilo morreu Vitor, deixe enterrado.
- AQUILO É SUA FILHA!
- NÃO, NÃO É NÃO... Aquilo nunca seria minha filha, só tenho Celline e você então chega.
Celline não entendeu e ficou parada quieta observando o que estava acontecendo, fiou chocada com tudo que ouvia, parecia que tinha recebido uma facada no peito, seus pensamento ia à irmã, há anos não lembrava conscientemente de sua irmã gêmea.
Ignorou o resto da conversa, os pais tentando fazer o irmão entender algo que parecia que nem eles sabiam direito o porque.
Para Celline a conversa terminou depois de varias horas com seu irmão saindo pela porta da frente batendo-a. Louren ficou estática totalmente perdida nas lembrando de Brint, enquanto Anthony olhava para ela e falou.
- Vá cuidar da sua filha, logo ela acorda.
- Não sei cadê ela! – Louren falou chorosa.
- Como não, Celline esta no quarto!
- Brint não está aqui, como será que ela esta?
- Fique quieta Louren, veja o que esta falando, já concordamos com isso esqueça aquela criatura.
Louren levantou-se chorando e falou nervosamente.
- Minha pequena, você não devia ter levado ela, não devia.
Anthony de cabeça quente virou a mão no rosto da mulher. O tapa foi tão forte que levou a mulher ao chão. Celline vendo a cena se horrorizou e acabou esbarrando num móvel chamando a atenção dos dois, Anthony sacou a varinha e aprontou para o móvel que voou revelando Celline encolhida.
- O QUE FAZ AQUI?
- n-na...nada p..papai... – Falou tremendo. – To faze...endo na...nada...
- Não minta para mim. - Gritou avançando na pequena, pegando-a pelo braço e arrastando para o armário. – Você vai aprender a não ficar ouvindo as coisas escondidas.
Anthony levou Celline para o armário e jogou a garota no chão, não se importou se machucava a filha ou não. Quando a ruiva caiu acabou torcendo o braço, Celline chorou e o pai fechou a porta deixando-a trancada no escuro sem se importar com o que acontecia.
A pequena ouviu outra discussão dos pais fazendo com que a pequena ficasse encolhida, tentou de tudo para não ouvir o que falavam, mas o assunto era ela... A única coisa que compreendeu entre os soluços era que iria treinar.
Passou a noite toda encolhida no armário frio e escuro, não entendia o porquê do pai estar fazendo isso, chorou até cair no sono, mas foi acordada com um chute na perna.
- Levanta! – Bradou o pai serio enquanto jogava sobre a filha água gelada. – Chega de moleza, vai ser alguém que pode se defender sozinha... Você tem que ser forte e não precisar de ninguém, esta me ouvindo?
Celline molhada tremeu afirmando com a cabeça e olhou para o pai, seus olhos ainda brilhavam a inocência, Anthony jogou a varinha sobre a menina indo para fora. Celline segurou a varinha ainda com medo e seguiu o pai.
- Agora você vai aprender côo se faz um feitiço. – Anthony segurou a varinha com a mão direita e apontou para a lareira. – Você deve se concentrar, mentalizar e verbalizar... Alguns feitiços e alguns bruxos conseguem realizar sem verbali... Está prestando a atenção Celline?
-S..sim papai.
- Ótimo então me fale o que se precisa para realizar um feitiço.
- Eh, concentrar... imagi...
Ao começar a falar Anthony virou o tapa no rosto de Celline olhando para a menina irritado.
- Você tem que prestar a atenção no que estou te falando, você esta me entendendo?
Celline afirmou com a cabeça, mas levou a mão direita ao rosto. Os olhos cheios de água pronta para rolarem pela face agora avermelhada da menina. Anthony aproximou da menina, por segundos Celline achou que iria receber um carinho, olhou para o pai, mas ele pegou seu braço e puxou para mais perto olhando ferozmente seus olhos.
- já lhe falei para você prestar a atenção... Vou te ensinar a se defender de qualquer coisa. – Fitando-a. – Quando alguém vier para cima de você, vai ter que bater nele, esta entendendo, vira o tapa nele.
Anthony novamente virou um tapa no rosto e sorriu.
- Assim, entendeu como é?
Celline afirmou com a cabeça olhando para o pai que se afastou. O coração batia forte quando ouviu a mãe descendo as escadas. A pequena quis corre, mas ficou com medo da reação do pai, então esperou Louren ir até ela e salva-la das crueldades do pai.
Louren desceu olhando os dois apaticamente passou por eles seguindo para a cozinha onde começou a fazer cozinho de cervo que Anthony tinha pegado na noite anterior.
- M.mamãe?
Louren não falou nada até ouvir a voz da ruiva pela segunda vez.
- Sim Celline? – Falou sem ao menos se virar para a pequena. – O que foi?
- Eh, que...
- Nada, Celline esta treinando agora não é filha. – Anthony sorriu para Celline. – Agora olhe para mim.
Louren nem se importou com os dois, nem com a voz chorosa da filha, novamente voltou sua atenção para as panelas. Celline pasma ficou olhando para o pai e logo correu os olhos para a mãe, suspirou abaixando a cabeça em seguida sem saber o que estava acontecendo concordou com o pai e começou a seguir ele para direção do porão da casa.
Já no porão/escritório Anthony abriu uma gaveta e tirou um comprimido levando para a boca da filha.
-Beba isso, é para ficar forte!
A pequena engoliu sem falar nada e Anthony entregou o livro para a menina ler. Celline foi para uma cadeira e começou a estudar o livro.
O tempo começou a passar e o treinamento de Celline era bem rigoroso a cada acerto Anthony falava que não era mais que sua obrigação e a cada falha uma surra, um grande sermão e mais um dia no armário frio e escuro.
Celline só tinha folga quando seu pai saia para caçar ou então para comprar algo na cidade. Até quando Vitor os visitava algo que raramente acontecia, ela não tinha folga.
Louren estava totalmente estranha, não falava direito com a filha nem com o marido, a pequena ruiva achava que a mãe vivia em modo automático, fazia comida, limpava a casa e dormia.
Uma noite deitada na cama à pequena ruiva rezou, pediu a anjos para acabar com aquela agonia e adormeceu depois de muito chorar.
Estava embaixo da coberta quando sentiu um peso extra na cama, seu coração bateu forte enquanto acordou assustada. Abriu os olhos relutantes e viu um par de olhos verdes brilhando em sua direção.
Em sua mente lembrou-se do seu pai falando. “Concentrar, mentalizar e verbalizar”. Pegou a varinha e se concentrou apontando para os olhos que brilhavam em sua direção.
- “Lumus”...
Da ponta da varilha um brilho fraco iluminou o quarto. Celline pode ver o worg branco a sua frente, as orelhas em pé e o rabo balançando de um lado para o outro, um latido foi ouvido e o worg se aproximou lambendo seu rosto. Ele parecia falar, mas agora Celline não entendia.
- Calma, estou aqui, também estava com saudades.
O Worg olhou sem entender e foi para dentro da coberta da menina, ele tremia como um filhote assustado, logo Celline entendeu o porque. A voz foi ouvida pelos ocupantes da cama.
- Encontrei vocês de novo...
Celline tremeu e abraçou o worg que rosnou para o visitante que olhava para ela com um olhar de posse. Uma risada infantil pode ser ouvida por todos no quarto, Celline esticou-se para ver quem era, mas acabou soltando um grito assustado.
- Ahhh...
Elai riu alto com o grito.
- O que foi minha pequena, não sentiu saudades? Vim levar você como havia prometido, falei que ninguém nos separaria.
- Meu pai vai brigar com você!
- Ah, meu amor, seu pai nem vai saber de nada, ele vai achar que você esta com ele enquanto na realidade você estará comigo.
- Mentira, ele vai sentir minha falta e vai me procurar.
- não vai não... – Falou uma voz feminina igual de Celline. – Ele nem vai saber que você sumiu, maninha...
A pequena na cama tremeu olhando para Elai e logo para a menina que aparecia em sua frente, era como se olhar no espelho só que com roupas diferentes. A pequena ruiva abraçada ao worg tremeu assustada.
-Br.brin.brint... – falou chorosa – Brint é você?
-Ah Elai, ela lembra meu nome que lindo! Isso agora saia do meu lugar, sai...
Brint gritava correndo na direção da cama e num movimento pulou sobre ela e começou a bater e empurrar Celline para fora da cama.
Elai riu e se aproximou de Celline segurando nos braços e levantando a menina olhando seus olhos, ele parecia gostar de ver o medo nos olhos dela que tentava inutilmente se soltar.
- Me solta.
Pediu chorando enquanto via Brint expulsar o worg da cama, Elai só riu e aproximou-se mais da pequena.
- Sabe sempre quis saber qual é o seu sabor.
Falou isso colando os lábios nos da pequena que quis gritar, mas quando abriu os lábios sentiu a língua de Elai invadir sua boca num beijo forçado.
Celline sentiu nojo e o corpo pegar fogo, gritou alto enquanto Elai a soltou e sorriu para ela.. Em desespero a menina correu para a janela e socou até que esta se abrisse, mas somente quebrou o vidro se cortando.
Acabou acordando assustada e gritando na sua cama sozinha, seu corpo estava ensopado e quente. Apesar do medo não reclamou somente se encolheu e ficou quieta na cama.
Fechou os olhos vendo que os pais não apareciam. Esperou a noite passar e o dia de tortura começar com a indiferença da mãe e os treinos torturantes do pai.
Celline no começo tinha achado uma fuga para os problemas, dormir, mas este virou outro. Pesadelos consecutivos com Elai e Brint fizeram a pequena não dormir mais do que duas horas por noite e para evitar o pai brigando acostumou-se a ficar horas quieta sem se mover com os pensamentos longes.