A estrada estava vazia, mas não por muito tempo. Num instante uma moto vermelha e preta passou rasgando a estrada, muito acima da velocidade permitida e trazendo consigo o barulho do motor envenenado. O piloto estava totalmente oculto por um capacete preto com o desenho de uma fênix, uma calça de couro e uma jaqueta, com somente uma cor diferente em um pequeno símbolo bem acima do peito.
Enquanto o sol ia se pondo a velocidade da moto ia diminuindo até parar por completo, tombando-a para o lado por alguns instantes apoiou a moto na perna direita e, rapidamente, tirou a luva puxando a manga da jaqueta. Constatou o horário e suspirou, estava quase atrasada.
Tirou o capacete e logo desceu a mão pelo rosto até chegar sobre o símbolo bordado na jaqueta. Passou a ponta dos dedos sobre ele e fechou os olhos por alguns instantes, sentia saudades, mas logo balançou a cabeça e pegando o celular começou a montá-lo.
Com a voz calma e tranquila começou a falar.
- Um, dois, três e quatro! – Riu baixinho, sentiu o celular vibrar e antes mesmo dele tocar atendeu. – Pronto! Me de á noticia que espero.
O celular ficou mudo por alguns instantes e logo a voz falou hesitando.
- Senhorita Manson?
- Não, é o papa que ta falando aqui... Céus, diga logo... Você achou o filho da P... –Jessie sentiu uma leve pontada na cabeça e fez bico. - Boa mãe?
- É não, bem desculpa! Sim, achei sim, não esta muito longe só mais algumas horas até um hotel em Genèva, o nome dele é ‘Moevenpick Hotel’... Parece ser bonzinho, tem barzinho, restaurante...
Quando começou a ouvir o rapaz Jessie soltou um suspiro de alivio, sua mão desceu lentamente para sobre a barriga e fechou os olhos. Porem antes mesmo de o garoto continuar a falar Jessie revirou os olhos e com uma voz não muito amigável falou.
- Certo moleque, obrigada, você foi de muito ajuda, não deixe sua “mãe” saber que esta de novo fuçando no computador, esconde o note que eu lhe dei porque não vou fazer outro para tu. –Jessie pensou em algumas coisas e riu. – Certo, também quero uma reserva se possível do lado do quarto dele... Alias, usa o nome de Meghan Wolf... Certo beijinho e se cuida.
Nem deixou o rapaz e falar e desligou, já tinha passado muito tempo no telefone, voltou a desligar e desmontar o celular. Suspirou e olhou a paisagem, seria uma boa viagem, mas sabia que não podia apreciar por muito tempo. Voltou a ligar moto e saiu cantando pneu, logo estava empinando e rindo divertida.
Não se importou muito com a velocidade, afinal sabia que aqueles radares não a pegariam nunca, confiava em suas habilidades. Jessie desviava dos carros e caminhões com grande habilidade, mas logo parou na entrada da cidade. Tirou o capacete e ajeitou o cabelo o deixando respirar um instante, também aproveitou para sentir o vento gelado bater em seu rosto, seus olhos azuis passaram pela cidade toda, pelo horário adormecido.
Ficou parada um pouco pensando e murmurou baixo.
- Desta vez você não me escapa! –Sua voz era levemente ameaçadora.
Torceu o cabelo e colocou o capacete ajeitando-se e logo acelerou a moto partindo para direção do hotel, antes mesmo de fazer qualquer coisa Jessie merecia um premio por ter achado ele. Ficou pensando em algumas coisas enquanto passava por alguns carros e outras motos.
Seus olhos foram atraídos por um pub, onde tinha muitas motos paradas na frente, ficou tentada a parar ali e conversar com algumas pessoas e também beber, mas achou melhor não fazer isso. Acelerou a moto empinando, conseguindo atrair alguns olhares, mas logo ignorou os assovios e urros de incentivo e partiu para o hotel.
Quando chegou à entrada olhou por todo ele e balançou a cabeça murmurando sozinha:
-Sempre um playboy!
O manobrista levantou uma sobrancelha olhando para a moto e logo para o piloto:
-Como senhor?
Jessie riu tirando o capacete, olhou para a moto e para o rapaz e suspirou.
-Muito cuidado com ela!
-Sim senhora... –O rapaz ficou olhando para a mulher descer da moto e caminhar para a recepção, ele deu um sorriso e passou a mão no tanque da moto. – Cuidarei muito bem dela.
Jessie olhou para direção do rapaz, seu olhar era quase assassino e o manobrista arrepiou-se todo e se apressou em guardar a moto.
A morena se virou para o recepcionista que estava olhando atento a tela do computador a sua frente, com uma voz cansada pelo horário avançado, falou baixo.
-‘Moevenpick Hotel’ em que posso ajudar?
-Entregando-me a chave da minha suíte. –A voz era tranquila agora.
-Qual o numero? –O rapaz ainda não tinha se dignado a olhar para cima.
Jessie deixou o sorriso que estava mantendo sumir e deu um leve tapa sobre a mesa e inclinou o corpo para direção dele.
-Não sei, mas tenho certeza que se você resolver trabalhar e procurar a reserva da senhorita Wolf vai encontrar e me dar à chave!
A voz dela era fria e cansada fazendo o rapaz se inclinar um pouco para trás com o coração assustado, tremeu um instante e começou a digitar algo no computador, logo pegou um cartão passando por sua maquina e entregando para ela.
-S. sinto muito senhorita Wolf, apartamento 7020D. – O rapaz esticou a mão direita tremendo um pouco.
Jessie sorriu pegando o cartão e começou a caminhar seguindo para o elevador. Olhou para direção dele por cima do ombro e falou baixo:
-Não merece gorjeta.
A morena riu se afastando e logo parando no elevador, lentamente foi tirando a jaqueta deixando sua regata branca aparecer. Bocejou por um instante, não tinha notado que estava com tanto sono assim.
Quando o elevador se abriu Jessie tinha tirado sua jaqueta e estava jogando sobre o ombro direito e sorriu para o ascensorista que desceu os olhos para direção dos seios de Jessie. Por alguns segundos ela não se importou, mas logo estalou os dedos na frente dele.
-Certo acabou a diversão, desejo ir para o meu andar agora. –Jessie falou mostrando o cartão para ele. - 7020D, não faço a mínima idéia de onde seja.
A morena deu um belo sorriso. Logo o ascensorista afirmou com a cabeça.
-Sim senhora e suas malas?
-Vai chegar mais tarde lindinho, agora, por favor.
O rapaz afirmou com a cabeça apertando o andar de Jessie que se acomodou no fundo do elevador. A garota ficou contando os segundos enquanto o rapaz observava seu corpo. A morena nem se importou e quando o elevador se abriu ela saiu rebolando lentamente só para deleite do rapaz.
Caminhou até a porta e passou o cartão, ouviu a porta se destrancar e entrou trancando a porta e colocando o cartão no seu lugar, olhou para o quarto bem mobilhado e decorado, fez uma careta jogando a jaqueta sobre um sofá e caminhou para a direção do banheiro abrindo a calça.
Seus olhos azuis percorreram o lugar por alguns instantes e parou sobre a banheira, pode ver aquela grande monstruosidade branca, cheia de tubos para os jatos de água, seu lábio tremeu num misto de raiva, ódio e pânico.
-MALDITO HOTEL!
Acabou falando alto e chutou o ar indo para direção da cama se jogando nela, sentiu o colchão macio a abraçar e suspirou tentando se controlar, seu desejo naquele momento era descer e quebrar a cara do gerente por ter aquilo, mas não iria caçar confusão naquele momento. Levantou-se tirando a roupa e entrou no chuveiro tomando uma ducha. Quando se sentiu limpa se enrolou na toalha e foi para a cama. Não pensou em nada a não ser dormir um pouco.
Jessie despertou com o calor do sol no rosto, piscou algumas vezes até que não agüentou mais a sensação e abriu os olhos sentando-se na cama e olhando em volta. Coçou o olho direito e logo suspirou, mas seu corpo invés de ficar relaxado ficou tenso, seus olhos podem constatar o que sua mente já sabia, não estava, mais no hotel.
Lentamente Jessie levantou-se passando a mão sobre o corpo, notou a camisola, torceu o nariz e continuou a caminhar quieta pelo quarto, prendeu a respiração quando ouviu algumas vozes, mas não se sentia ameaçada. Logo caminhou mais rápido com o coração batendo forte.
Seus olhos azuis brilharam quando viram na sala de estar um loiro em pé de costas para ela ao lado de um moreno. Os dois estavam atentos a algo no meio da sala. Jessie não se importou e correu pulando sobre os dois.
-Ah, céus quanto tempo... –A voz era meio chorosa.
O loiro virou-se devagar olhando para o rosto dela, mas tinha algo errado, Jessie tinha certeza disto, soltou os dois e olhou para o rosto de Alex e tremeu quando aqueles olhos vermelhos a olharam. Metade do seu rosto estava queimada, vários tiros no corpo. Ele olhou-a nos olhos e levantou o braço esquerdo com uma submetralhadora e começou a atirar nela.
O moreno gargalhou e virou-se para Jessie, estava com uma faca no peito, pescoço cortado e movia os lábios tentando falar alguma coisa. Em suas mãos uma 9 mm que apontava para direção da barriga dela onde descarregou a arma em segundos.
Assustada demais para fazer alguma coisa, Jessie de alguns passos para trás acertando as costas na parede, as balas a machucavam e queimavam sua pele, mas parecia que não a matavam como parecia que queriam.
- Parem, não façam isso... Parem! – Gritou o mais alto que pode. – Não podem fazer isso, PAREM! – A voz tinha pânico e dor. –Mãe!
As balas pararam no ar, uma garota magra com cabelos negros até os ombros meio bagunçados, descansas com manchas de sangue nos pés e nas mãos usando um vestido vermelho caminhou até ela. Suas mãos se levantaram e tocaram seu rosto devagar com uma voz assustadoramente fria falou.
- Não deixe isso acontecer, você precisa deles, você precisa de todos eles, tem que buscá-los antes que os achem, são meus filhos, mas vocês são os primeiros. Jessica, eu preciso de vocês... Eu preciso de você!
A voz dela sumiu, mas o pânico das balas não. Tudo ficou escuro novamente e Jessie abriu os olhos sentindo o frio do quarto, estava somente com a toalha enrolada nos cabelos, mas a sensação na pele de balas atingindo ainda estava latente.
Jessie sentou-se na cama e passou a mão na nuca e jogou a cabeça para trás, quando ouviu um barulho estranho, virou o rosto para direção da janela e pode ver algumas sombras vindas em sua direção, seus olhos azuis ficaram brancos assim como seu rosto. Tremeu os lábios e com o coração batendo rápido correu para a porta, bateu algumas vezes nela até que conseguiu abrir e saiu para o corredor no exato momento em que as sombras invadiram seu apartamento.
Homens com armas nas mãos apontaram para ela e sem pensar em nada começaram a atirar. Jessie virou-se para a direção do elevador e deu de cara com Dean, mas antes que pudesse falar algo, varias balas acertaram seu corpo, porem Jessie somente protegeu a barriga. Dos lábios o sangue escorreu, mas Jessie conseguiu falar antes de cair ajoelhada.
-Corre!