quarta-feira, março 29, 2006

Um manifesto contra a guerra e homenagem aos que perdem suas vidas em vão.

Olá, tudo bem? Comigo sim. Você lembra de mim? Não? Eu lembro de você. Seja você quem for. E você me conhece. É. Delírio. Também acho meu nome bonito. De-lí-rio. Nome cor de canto de sabiá, não? Engraçado que não lembre. Tão engraçado quanto o pingüim que mora no Saara. Ele conta ótimas piadas. Você me vê muito e ainda não se lembra. Tô chateada. De mal. Pronto, passou. Sorria. Chore. Tá bom, já pode parar. Entendo que não lembre de mim. Você me confunde com sonho. Não sei como consegue. Ele é menino! Eu sou menina. Viu? Vestidinho. Olhos coloridos. Um azul e um verde. E meu irmão é bem mais velho. Podia me confundir com um arco-íris. Eu não ia reclamar. Mas deixa pra lá. Eu deixo. Queria falar sobre outra coisa. Sobre a menina. Outra menina. Ela mora em uma cidade velha. Não tanto quanto eu. Mas pra uma cidade é velha. Sabe as mil e uma noites? Foi lá. É muita noite. Tanta noite que a lua cansou de subir e descer no céu. Mas a menina. Ela é bonita. Tem cheiro de pessoa nova e sem maldade. Todo mundo é assim no começo. Gosto de pessoas assim. Elas sabem meu nome, tá! Elas sabem muita coisa e vão esquecendo. Por isso morrem de velhas. Esquecem de viver. Lembra da menina? E da cidade? Pois é, a cidade tá caindo. Toda cidade cai, eu sei. Eu vi uma levar um tombo outro dia. Parecia jogo de xadrez! É, as torres caíram. Acontece. As pessoas me vêem mais nessas horas. Interesseiras. Nem trazem chá. A cidade. Tá caindo, aos poucos. Caindo casa a casa. Sabe quando peças de dominó caem pra alguém ganhar um prêmio? É isso. Só que diferente. É guerra. Medo. Não gosto de guerra. Você gosta? Alguém sempre gosta. Vocês que inventaram. Engraçado que nem sabem o que é. Guerra é quando pessoas odeiam a vida. Puxa, ela não fez nada! Ou fez? Vou perguntar pro Destino. Ele sabe tudo. Ele é o meu irmão. Viu? Ela não fez nada! Tadinha. E a cidade caindo. Ao mesmo tempo, eu tô longe. Numa casa grande. Bem grande. Adoro branco. Branco é o nada que é tudo. É sim. Tem um homem na casa que me vê. Ele manda em muita gente. Escoteiros? Pessoas de uniforme. Tão lindinhos antes de morrer! Outra casa. Bem grande também. Outro homem. Esse manda em outros escoteiros. Já sei! São eles que tão de mal com a vida. Eles me vêem e sorriem. Eu sorrio de volta. Eles estão contentes. Deve ser porque a cidade tá caindo. A casa da menina também. Caiu. Em cima dela. Muito barulho, assim ninguém dorme. Sonho vai ficar bravo. Mas tá só olhando as coisas. Destruição tá aqui! Eu sei. Meu irmão. Ele não gosta muito disso, mas tá aqui. Pessoas desejam viver. Elas querem muito. Desejo chega, mas atrasada. Isso a deixa irritada. Todo mundo grita. A menina também. Desespero dá gargalhadas. Ela gosta disso e já chegou. É. Não adianta. A cidade caiu. Aconteceu o que iria acontecer. Destino. Ele fecha o livro ao chegar. A menina? Tá na casa. Aquela que caiu em cima dela. Hayat. É o nome da menina. Presta atenção! É o nome dela. Entendeu? Não? Pensei que falasse a língua de Maomé. É vida. O nome da menina é “Vida”. Ih, chegou. Minha irmã mais velha chegou. Morte. Ela vai levar a Vida. Mas antes. Antes, a menina olha pra mim. Ela vê nos meus olhos. No verde e no azul. Ela vê como tudo era. Ela vê como tudo poderia ser. Se não a odiassem e tudo fosse diferente. Sabe o que fiz? Vi nos olhos dela também. É. Por isso fiquei triste. Todo mundo olha pra mim antes de partir. Todo mundo. Meu nome é Delírio.


by Leonardo Marcello

6 comentários:

Anônimo disse...

*Clap...... Clap...... Clap...... Clap...... Clap...... Clap...... Clap..... Clap..... Clap..... Clap..... Clap..... Clap..... Clap..... Clap.... Clap.... Clap.... Clap.... Clap.... Clap.... Clap... Clap... Clap... Clap... Clap... Clap... Clap.. Clap.. Clap.. Clap.. Clap..*

Anônimo disse...

Eis que encontro aqui o manifesto que foi escrito por outras mãos, mas que representa tão bem minha adorada irmã Delírio.- Delírios de Guerra- escrito por Leonardo Marcello, mostra muito bem como é ver as guerras pelos olhos da mais nova dentre nós os Perpétuos. Um manifesto que devia ser repassado a todos aqueles que estimulam tal ato impensado. Um manifesto que é capaz de por as nossas mãos em nossas conciências e chorar ao ver o que o poder absoluto é capaz de fazer. Sim, minha pequena irmã. Vida não tem culpa de nada, nunca teve. Mas sei quão dolorido será para você, toda vez que seus olhos forem buscados como refúgio, antes daqueles que te procuram partam com a segunda dos Perpétuos. Nem mesmo as trilhas que eu mostro, onde eu gostaria que pegassem as trilhas que levariam para o lado oposto, podem fazer com que os despertos sigam para o lado que realmente queremos. E sempre poderei ver as lágrimas que serão derramadas, as almas explodindo em fúria com a morte dos inocentes, quando olharem para trás e puderem se dar conta que ali, haverá apenas uma única trilha. Pois o que passou, não mais pode ser mudado, mas o que virá, ainda tem chance de trazer um pouco de esperança para aquela menina a quem chamamos de Hayat.

Anônimo disse...

simplesmente amei!!

Anônimo disse...

Devo admitir que para a cabecinha oca da minha irmã caçula é um texto magnifico.. um texto que mostra o que ocorre quando a nossa irmã resolve surgir entre os mortais, de mãos dadas com nosso irmão artista.. e pelas pinturas de vermelho sangue de destruição as pessoas deixam de vir a mim.. ou não.. existem aqueles que vem a mim pedir por dias melhores.. pedir pelo fim da guerra.. pedir para sonhar com dias de paz e de tranquilidade.. existem os que sonham que tudo acabe.. e exista um recomeço.. mas não há recomeço.. por mais branda e doce que possa vir a ser a minha nova face.. sempre serei nostalgico e soturno em afirmar que enquanto dormir se lembrarão.. mas quando acordarem.. eles esquecerão.. e vão voltar a ser o lobo do homem.. e vão receber a visita tão aguardada da minha adorada irmã a quem precedo antes da partida.. pouco depois que eles vêm a nossa caçula cabeça-oca.. e desejo.. desejo desta vez pode não conseguir seu entento.. ela vem com a desespero.. no desejo em se manter vivo.. em matar primeiro.. mas não existe outra trilha.. a humanidade é fadada a destruição.. como sei? Perguntem ao meu irmão Destino..

Anônimo disse...

Olá, estava olhando os coments do meu blog e vi um seu e resolvi visitar, adorei sua postagem ... vc escreve muitissimo bem ...

qdo der passa la no TS pois ele esta de cara nova

Jan disse...

Tenho um amigo chamado consciência, que tem um irmã chamada escolha, que namora um jovem chamado Liberdade, mas é amante de um velho conhecido como alienação. Todos eles moram na terra da Humanidade, e sabe como sei? Conversei com consciência para entender meus sentimentos, depois pedi a escolha para me mostrar algumas opções, depois conversamos com Liberdade que ajudou a decidir..Ai apareceu o amante alienação que tentou me convencer que liberdade não existia, pois ele me ajudaria mais. Não senti confiança, como já tava acostumada a conversar com consciência, resolvi seguir o plano, para encontra um sentido para minha existência, realmente queria entender porque tenho tantos sentimentos, e porque tenho vontade de amar e machucar quando os sigo. Não encontrei a resposta, mas a busca pelo entendimento me deixou feliz, parei de sofre de irracionalidade, e recomendei a todos os outros doentes como a procura meu amigo, sua irmã, o namorado dela, e até o amante.